Life of Pi

Quem me segue no instagram sabe que andei louca com este livro. Em dois dias marcharam as 400 e tal páginas e ainda soube a pouco. Assim que o terminei, quis logo ver o filme. Acho que a última história que me consumiu tanto foi Memoirs of a Geisha, que ainda hoje está entre os meus livros favoritos. Se a imagem acima ainda não foi spoiler suficiente, estou a falar de Life of Pi. 

Quando comprei o livro pensei que ia ler apenas uma história sobre um naufrago que, por alguma razão bizarra, partilhou um bote de sobrevivência com um tigre durante 227 dias. Mas não, o "autor" (o narrador da história - que aparece com duas vozes distintas: a sua e a de Pi) diz-nos logo inicio que esta é uma história que nos vai fazer acreditar em Deus. 

Felizmente não soube deste carácter religioso da obra antes de o comprar porque garanto-vos que era o suficiente para me afastar o interesse. Contudo, apesar de ser um tema que está sempre presente (e que no início ganha alguma relevância na caracterização de Pi), não ganha uma dimensão central até ao final. No final sim, sentimos que precisamos que nos sentar à beira mar e reflectir sobre a vida. Mas não são essas as melhores histórias?

Life of Pi é um livro com duas versões de uma história e somos nós que decidimos qual preferimos. É aqui que o nosso lado crente entra em conflito com o lado racional. A história fantástica ou a crua mas realista? A parte mais irónica é que até ler a última versão dos acontecimentos, nunca duvidei a presença de Richard Parker no bote ou na ilha carnívora com suricatas mas podem crer que o meu lado céptico foi abalado pela versão "realista" de todo o seu problema.

No final, não importa a versão que escolhemos. A verdade é que o navio afunda, Pi sofre e sobrevive. Os factos não mudam mas a nossa escolha muda-nos a nós e a nossa forma de ver o mundo. 

No final, quando a segunda versão é revelada, Pi pergunta aos oficiais qual versão preferem. Eles escolhem a do tigre, ao qual Pi responde "Thank you. So it goes with God.". Será que isto significa que acreditar em Deus é uma escolha voluntária sobre uma história ou que a versão do tigre, em que Pi nunca sucumbiu ao seu lado negro, é a versão que quer que chegue a Deus? 

As perguntas que ficam no ar são muitas. Deixa-nos com aquela sensação de estranheza que implica reflexão e é por isso que é tão bom. É um livro fácil de ler, cheio de climaxes e sem partes mortas, que nos deixa sempre tensos, mas com uma mensagem e impacto maravilhoso.

Ps. Sim, depois de ler o livro vi o filme. Apesar de estar visualmente rico, há várias passagens que não estão tão claras e, no filme, são quebradas várias regras básicas de convivência com o tigre - em que no livro são centrais na coexistência de ambos - o que faz da versão cinematográfica menos realista, na minha opinião.

Já leram o livro ou apenas viram o filme? Que versão escolheram e porquê? ♡

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